terça-feira, 21 de setembro de 2010

Uma poluição subtil e discreta

Um estudo feito por uma equipa de investigadores do Instituto Max Planck, publicado online a 16 de Setembro pela revista Current Biology, revela que a iluminação de rua actua como poluição nocturna, afectando o comportamento de aves canoras, nomeadamente a nível de reprodução. O estudo decorreu durante 7 anos e focou-se numa espécie em particular, o chapim-azul.


O chapim-azul é uma ave canora com um comprimento de 11 a 12 cm e pesando entre 9 e 12 g. É facilmente identificado pela sua plumagem colorida, que o distingue de aves de outras espécies (ver fotografia, Crédito fotográfico: Maximilian Dorsch/wikipedia).


Segundo o artigo, os chapins-azul vivendo na orla da floresta apresentam diferenças de comportamento em relação aos chapins vivendo no interior da floresta (apenas) se a orla se situa ao pé de zonas com iluminação nocturna (em particular iluminação de rua).

Das alterações observadas a que poderá ter consequências mais graves é o facto de os chapins jovem-adultos iniciarem o seu canto matinal mais cedo. Segundo Bart Kempenaers, um dos autores do estudo, os chapins que iniciam o canto mais cedo descansam menos e estão mais expostos aos predadores. E também baralham as escolhas feitas pelos chapins fêmea.

Os chapins-azul fazem os seus ninhos em recantos das árvores (embora também aceitem ninhos feitos pelo Homem). Mas nem sempre os pais das crias são os machos que ajudam na construção do ninho. Se entretanto as fêmeas encontrarem um macho que considerem mais saudável podem acasalar com ele.

Um dos factores que as fêmeas chapim-azul consideram na escolha do futuro pai dos seus filhotes é o canto. O estudo agora apresentado demonstra que em regiões com iluminação nocturna os chapins jovem-adultos que iniciam o canto mais cedo têm uma probabilidade duas vezes maior de acasalar com fêmeas que não são as suas parceiras, porque as fêmeas (incorrectamente) os consideram mais saudáveis.

A equipa de Kempenaers verificou que, para além dos chapins-azul mais três espécies de aves canoras passaram a iniciar o seu canto mais cedo: os chapins-real, os melros e os piscos-de-peito-ruivo (que chegam a iniciar o canto uma hora antes!). Estes investigadores receiam que, ao alterar as “regras” pelas quais as fêmeas se guiam na escolha do melhor progenitor das suas crias, a iluminação nocturna poderá ter consequências importantes a nível da evolução do chapim-azul.

Kempenaers refere que “em comparação com a poluição química e sonora, a poluição luminosa é mais subtil e os seus efeitos talvez não tenham ainda recebido a atenção merecida”.


Figura das outras três aves canoras referidas no estudo: chapim-real (à esquerda), melro (ao centro) e pisco-de-peito-ruivo (à direita). Crédito fotográfico (da esquerda para a direita) Sykora Konadra/wikipedia; Bystrc/wikipedia; Rowland Seymour/BBC



O resumo do artigo da Current Biology encontra-se aqui (inglês).

Nota: As aves canoras não são as únicas cujo comportamento pode ser influenciado pela iluminação nocturna. As aves que migram a noite podem ferir-se gravemente ou até morrer aou baterem contra torres iluminadas e o número de corujas perto de zonas habitadas diminuiu devido à dificuldade em caçar provocada pela poluição luminosa. Mas os falcões peregrinos parecem “safar-se” melhor nas grandes cidades.

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