quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Um ciclo solar mais longo

Um estudo publicado pela revista Geophysical Research Letters por um grupo de investigadores do National Center for Atmospheric Research (NCAR) apresenta uma explicação para a duração anormalmente longa do último ciclo solar. Segundo este estudo, é consequência de, neste ciclo, as correntes de convecção internas do Sol se terem estendido desde o equador até aos pólos e não do equador até a uma latitude de 60º, como aconteceu nos dois ciclos anteriores.

Tal como na Terra, formam-se correntes de convecção no interior do Sol. Estas correntes transportam o plasma sob a superfície solar do equador na direcção dos pólos, e depois de volta ao equador numa zona mais interior do Sol, gerando e mantendo um fluxo magnético nesta região.

O esquema em cima apresenta as duas situações possíveis. No decorrer de um ciclo solar normal (à esquerda) estabelecem-se duas correntes, uma entre o equador e uma latitude de 60 º e outra dessa latitude até aos pólos. Segundo o estudo agora publicado estabeleceu-se apenas uma corrente entre o equador e os pólos no decorrer do último ciclo solar (à direita). Esquema cedido por UCAR.

Sabe-se actualmente que as correntes de convecção no interior do Sol estão directamente relacionadas com o ciclo solar. Cada ciclo solar dura em média 11 anos. Inicia-se com um aumento do número de manchas solares até ser atingido um pico, chamado máximo solar. Segue-se um decréscimo do número de manchas solares até ser atingido um mínimo (mínimo solar), altura em que termina um ciclo e se inicia outro.

Em cima encontra-se uma fotografia do Sol. Cada “ponto preto” é uma mancha solar. As maiores destas manchas têm um diâmetro próximo de “20 Terras”. (Crédito: ESA/NASA).

O último ciclo solar completo, que terá terminado em 2009, teve uma duração de perto de 12 anos. Esta duração “extra” tinha sido prevista utilizando um modelo gerado em computador chamado Predictive Flux-transport Dynamo Model criado por elementos da NCAR. Este modelo tem em consideração vários factores que poderão influenciar a duração de um ciclo solar, tendo sido utilizado no novo estudo para demonstrar a influencia da distância a percorrer pelo plasma na corrente de convecção no interior do Sol na duração de um ciclo solar.


P.S.: Muitos investigadores que estudam o Sol consideram que poder determinar a duração e outras características de um futuro ciclo solar poderá tornar mais fácil prever, com até duas décadas de avanço, os períodos de maior actividade solar. Este facto é muito importante porque, próximos de manchas solares, ocorre outro fenómeno muito importante, denominado flares.

Fotografia de um flare tirada pela sonda SOHO a 4 de Novembro de 2003 revela (em cor falsa) os fluxos de gás quente na superfície do Sol. A zona branca brilhante à direita é um flare. (Crédito: ESA/NASA)

Os flares são grandes explosões, que podem durar entre minutos a horas, em que ocorre a libertação de radiação muito energética e também de partículas com carga (protões, electrões, iões de hélio) do interior do Sol, o chamado vento solar. O vento solar cria variações na magnetosfera terrestre (é responsável pela ocorrência de auroras boreal). No período de máximo solar de um ciclo solar os flares podem ser muito intensos e o vento solar resultante pode criar problemas muito graves a nível das comunicações terrestres. Pode até tornar (todos) os satélites inoperacionais.


Esquema representando o Sol (à esquerda) e a Terra (à direita). As manchas laranjas representam o vento solar e as linhas azuis correspondem à magnetosfera terrestre. Esquema feito por Steele Hill (NASA) para a SOHO.

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